quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

(5) EMOÇÕES DESTRUTIVAS

Quando asseveramos que o único jeito de “driblar o stress” é acolher os eventos adversos do mesmo modo que o são os aprazíveis, isto é, gerenciando as emoções que lhe são pertinentes, queremos dizer que, ou nos disciplinamos para agir assim, ou todas às vezes que tivermos que nos defrontar com “alguma coisa ou situação” que pelos padrões que desenvolvemos “não é aceitável”, o choque emocional correspondente - além de “provocar um apagão na acuidade que nos é natural” (desarmonia da psique com as conseqüentes bizarrices próprias dos estressados), neutraliza os defensores do organismo (glóbulos brancos), favorecendo dessa maneira a proliferação dos agressores que sempre estão a espreita: bactérias, vírus etc.Jamais se deve abrir mão de gerenciar racionalmente as emoções, sejam elas despertadas por eventos felizes ou infelizes, porque em ambos os casos a penalização é a desdita.Ganhar 50 milhões na mega sena, por exemplo, e em seguida começar o dispêndio guiado tão somente pelos anseios retidos, isto é, sem planejar o que se deseja de fato, profissionalizando-se, quando é o caso, antes de começar a exercer a atividade escolhida, significa, como infelizmente é averiguado, perder em poucos anos os cinqüenta milhões recebidos. Por outro lado, enquanto a não administração do período pós-desemprego, por exemplo, pode até transformar um executivo em um dependente alcoólico, impedindo-o, por esse motivo, de ser reconduzido ao mesmo cargo em outra empresa, um planejamento ótimal das atividades que devem ser desenvolvidas nesta fase, pode levar o gerente demitido a exercer uma função de maior relevância em outra organização.Aceitação ou resignação estóica são conceituações que as classes que se julgam eruditas ridicularizam, por entenderem que se referem a uma capitulação final e irrestrita. Entretanto, diante da morte, por exemplo, ou de muitos outros casos semelhante aos mencionados, ser estóico equivale a não se estressar mesmo diante das circunstancias mais agressivas que vez ou outra embaraçam a existência.Aceitar uma derrota em “qualquer campo de batalha” pode ser uma inigualável estratégia para auferir do tempo necessário para se preparar para “ganhar a guerra”. Quantas vezes o perdedor de ontem é o vencedor do amanhã?Resignar-se tem o mesmo significado, visto que é freqüentemente inteligível recorrer a esta pratica quando “a situação que for” naquele momento é invencível, é tanto ruim como imutável, ou ainda quando o “preço da mudança” é impagável.Em tratamentos psicoterapeuticos, no entanto, o contrário é possível, porque para que a terapia tenha sucesso, pode ser necessário que o paciente tenha que aceitar circunstâncias ou atitudes pessoais que repudia, sejam elas quais forem. Ao mesmo tempo, o psicoterapeuta pode exigir do paciente a diminuição da sua resignação em relação a certos aspectos, se considera que é tolerante ou submisso demais em relação a eles.Noções de aceitação são proeminentes em muitas religiões, especialmente as cristãs. Os Hinduístas e Budistas, por exemplo, convidam a aceitar o sofrimento como parte integrante da vida, porque sofrer é sinônimo de espiar os desacertos das vidas passadas.A mesma coisa é ensinada pelo Kardecismo, sendo que este afiança, ainda, que o planeta Terra (conseqüentemente todos os que nele habitam), se encontra no seu segundo ciclo, a fase de expiações e provas, aguardando o fim do III milênio para evoluir para o terceiro período que é o de regeneração. Uma nova etapa, considerando que neste orbe só permanecerão aqueles que o merecerem, em outras palavras, que tiverem se esforçado para crescer moral e espiritualmente como a fase de regeneração requer. Este novo “clima”, em relação ao atual, não incluirá as penúrias hoje existentes.As três doutrinas dizem textualmente que o homem não se deve “revoltar” diante das agruras que permeiam sua vida, porque estas são ditadas pelas obras que foram praticadas ao longo das vidas passadas. Entendamos, não pregam que as “agruras devam ser aceitas resignadamente porque fazem parte do destino que é imutável”. Ao contrário, esclarecem que diante destas o homem não deve se revoltar, amargurar ou perturbar, porque se assim fizer perde sua capacidade de continuar racional, de usar sua inteligência para, continuando a fazer da melhor forma possível sua parte, se manter habilitado a percorrer os caminhos disponíveis para atingir suas metas. Veremos posteriormente que estes conceitos também eram defendidos pelos Estóicos. Sêneca, por exemplo.O que isso tudo tem a ver com o stress? Vamos, então, ao caso daquela senhora que, vendo o filho perder a visão gritou: “não aceito que meu filho fique cego”. Seu brado foi o reflexo de seus instintos, como sabemos, os primeiros movimentos que impulsionam homens e animais em seus procedimentos. Uma ação automática e irrefletida - irracional, portanto, na qual o homem que é dotado da razão, abdica integralmente dela para se comportar como faz seu primo o chimpanzé.Mesmo assim, as atividades que escoltaram o “não aceito” dessa mãe foram assaz louváveis, porque mesmo perturbada arregaçou as mangas e com seu esforço superou obstáculos e realizou coisas que até então nenhuma outra mãe, diante de enunciado idêntico, havia conseguido. Sua perturbação, entretanto, conseqüência do embargo psíquico, a prejudicou e continua prejudicando-a de múltiplas formas.O que desejamos deixar claro é que o ser humano, por ainda não ter entendido que as emoções, se não controladas, abalam sua mente (psique), e que este abalo, se duradouro, acaba por afetar, às vezes até irreversivelmente os órgãos do soma (enfermidades psicossomáticas), toda vez que é contrafeito, ao invés de preservar a racionalidade, que lhe permitiria enfrentar e superar as dificuldades que o atingem, não o faz, e assim procedendo, adoece e até morre.Todos já ouviram histórias como “Fulano envelheceu depois da morte do filho” ou “Sicrano ficou de cabelos brancos quando cuidou do pai no hospital”. Uma pesquisa da Universidade da Califórnia, em São Francisco, nos Estados Unidos, acaba de demonstrar que há verdade por trás destes clichês. O estudo comprova pela primeira vez que o stress acelera o envelhecimento. Além disso, a pesquisa indica a influência direta do estado psicológico sobre a longevidade das células do organismo. Pessoas que tem uma percepção elevada do próprio stress envelhecem mais rapidamente. “Existem certas formas de” pensar “que contribuem para o stress – a idéia, por exemplo, de que os problemas com que lidamos são insolúveis”, diz a psicóloga Elissa Epel, uma das coordenadoras do estudo.Elissa e sua equipe examinaram 58 mães de 20 a 50 anos, 39 das quais cuidavam de filhos com autismo, paralisia cerebral ou outras deficiências. Os cientistas analisaram o grau de “envelhecimento de células do sistema imunológico” dessas mulheres. O principal indicador do envelhecimento celular é uma seção na ponta do cromossomo – as fitas de DNA que guardam nosso material genético – chamada telômero.Trata-se de uma espécie de tampa bioquímica, que tem a função de manter a integridade de DNA, impedindo que a molécula se desfaça. Cada vez que uma célula se divide o telômero fica um pouco menor, até atingir um ponto crítico. A partir daí, a célula não se reproduz mais e acaba morrendo. O telômero, portanto, é um indicador de idade celular. Ao mostrar que o stress encurta prematuramente os telômeros, a pesquisa indicou uma relação entre ele e o envelhecimento.A pesquisa comprovou que o desgaste de prestar cuidados intensivos a um filho cobra seu preço. A diminuição dos telômeros foi mais acelerada nas mulheres que cuidavam de filhos deficientes. Testes psicológicos revelaram que o modo como essas mulheres encaravam seus problemas também desempenhava um papel. A idade celular daquelas que se percebiam como tendo altos níveis de stress chegou a ser dez anos superior a das mulheres da mesma idade com baixos níveis de stress.Além do comprimento do telômero, a pesquisa mediu níveis de telomerase – uma enzima que tem a função de restaurar as perdas do telômero – e de radicais livres, substâncias que danificam tecidos celulares, intensificando o envelhecimento. Os resultados foram consistentes: mulheres mais estressadas apresentaram níveis mais baixos de telomerase e mais altos de radicais livres. A pesquisa deixa uma lição básica: paz de espírito ajuda a retardar a velhice. “Muitos gostariam de ter uma pílula mágica, mas o modo mais efetivo de reduzir o stress está em mudanças no estilo de vida”, diz Elissa Epel. A pesquisadora recomenda relaxamento e alimentação equilibrada para combater o stress. E uma atitude mais serena diante de aspectos da vida sobre os quais não se tem controle.

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